sábado, 2 de janeiro de 2010

Angra dos Reis: relação desarmoniosa com a natureza

Infelizmente os deslizamentos de terra ocorridos no início de 2010 em Angra dos Reis marcados pelas fortes chuvas que caem em toda a região descrevem mais um capítulo da história da ocupação ilegal nas cidades brasileiras. Legalizada ou não o fato é que a área atingida pelo deslizamento trata-se de região natural sem qualquer condição de promover habitação não importa o porte da construção. Vertentes nunca ofereceram condições para qualquer invenção humana, pois não oferecem estabilidade nem a curto e nem a longo prazo, pior ainda se pensarmos que a ocupação é no pé da vertente, pois qualquer movimentação acima arrasará com tudo que estiver embaixo.

No dia 29 de novembro o blog geoplanejamento escrevia sobre as atividades humanas construtoras ilegais que mais ofereciam riscos ao meio ambiente e ao núcleo urbano, entre as quatro atividades citadas, a construção da pousada atingida e demais residências estavam incluídas em três delas, ocupação na vertente, em área de preservação permanente e em áreas verdes remanescentes de floresta. Junta-se a esse quadro os eventos climáticos e temos uma tragédia anunciada. Não obstante, essa não é a única região natural em território brasileiro marcada pela presença de fortes habitações, é só mais uma delas, é só um problema a mais e interminável, o que difere em Angra são os valores, quem mora na enseada mora porque tem e quem mora no morro mora porque precisa.

Vender um pedaço de floresta para o mercado das construções é pouco inteligente, mas é lucrativo. Poder escolher morar no contato da natureza não deveria ser opção de alguns, mas sim condição de todos, porque tudo ao nosso redor deveria ser tomado por florestas. O homem não pensou dessa forma e destruiu o que pode invadindo agora o que está de pé. Os eventos climáticos estão aí e não se trata de aquecimento global, e sim aquecimento local, cidades urbanizadas estão criando microclimas e interferindo no ritmo climático das suas regiões, nada mais natural que uma aceleração no ciclo hidrológico, evaporar, condensar e precipitar. O que resta para nós ainda é rever nossos hábitos de vida e nossa relação com a natureza que deve ser harmoniosa e não criminosa.

Tragédia anunciada: a habitação desenfreada no sopé da vertente altamente inclinada em Angra dos Reis. Imagem Jann/flickr.com 09-04-2008


Ilha Grande: especulações desrepeitam e agridem a natureza fabricando residências de luxo em locais inapropriados. Imagem Liliane Ferrari 15-11-2008/flickr.com

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